Pós-modernismo e sua relação com o marxismo

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Traduzido por Valéria Campelo
25 de agosto de 2023

Definição e Crítica

O pós-modernismo é, essencialmente, a alegação de que (1) uma vez que há um número incontável de maneiras pelas quais o mundo pode ser interpretado e percebido (e que são frequentemente associadas) então (2) nenhum método canônico de interpretação pode ser confiável.

Esta é a alegação fundamental. Uma alegação imediatamente secundária (e aqui é onde o marxismo emerge) é algo como “uma vez que nenhum método canônico de interpretação pode ser confiável, todas as variáveis de interpretação são melhor interpretadas como a luta por diferentes formas de poder”.

Não há nenhuma justificativa para a afirmação secundária (exceto que ela permite que a patologia ressentida do marxismo prossiga em um novo disfarce).

A primeira alegação é verdadeira, mas incompleta. O fato de haver um número indeterminado de interpretações não significa (ou mesmo implica) que existe um número indeterminado de interpretações VÁLIDAS.

O que significa válido? É aí que se revela um pragmatismo inteligente. Válido pelo menos significa: “quando a proposição ou interpretação é representada no mundo, o resultado desejado ocorre dentro do prazo específico”. Essa é uma definição pragmática da verdade (inspirada no pragmatismo americano de William James e C.S. Peirce).

A validade, porém, é limitada pela necessidade de iteração (entre outros fatores). Suas interpretações têm de mantê-lo, no mínimo, vivo e não sofrendo demais hoje, amanhã, na próxima semana, no próximo mês e no próximo ano em um contexto definido por você, sua família, sua comunidade e os sistemas mais amplos dos quais você faz parte. Isso cria limitações muito restritas às suas percepções, interpretações e ações. Os jogos têm de ser iteráveis, jogáveis e, quiçá, atraentes aos jogadores - como Jean Piaget fez questão de destacar em seu trabalho sobre o equilíbrio.

Relação com o Marxismo

Não é como se eu, particularmente, pensasse que o pós-modernismo e o marxismo são proporcionais. É óbvio para mim que o tão vaidoso ceticismo das metanarrativas, que é parte essencial do ponto de vista pós-moderno, torna esta aliança logicamente impossível. Os pós-modernistas deveriam ser tão céticos em relação ao marxismo quanto a qualquer sistema canônico de crenças.

Com efeito, o argumento pós-moderno formal, tal como é, é um ceticismo radical. Mas não é exatamente o que ocorre na teoria ou na prática. Derrida e Foucault, por exemplo, eram, praticamente, marxistas reprimidos, se é que reprimidos. Eles compararam a retórica “burgueses versus proletários” de 1960 à política de identidade que nos atormenta desde os anos 70. O fundamento implícito (e muitas vezes explícito) de Foucault é que as relações de poder governam a sociedade. É uma reformulação do discurso marxista da eterna e originária luta de classes. A suposta preocupação de Derrida com os marginalizados é uma versão da mesma coisa. Eu realmente não me importo se algum deles fez a estranha declaração de discordar das doutrinas marxistas: seus argumentos fundamentais continuam encharcados nessa matriz de pensamento.

Você pode observar isso na prática em áreas como estudos de gênero e serviço social (assim como literatura, antropologia, direito, pedagogia etc.).

Há problemas ainda mais profundos. Por exemplo: o pós-modernismo deixa seus praticantes sem uma ética. A ação no mundo (até mesmo a percepção) é impossível sem uma ética, então é necessário que seja permitido utilizar vias transversas. O fato de que esta permissão produz uma contradição lógica parece não incomodar de modo algum os pós-modernistas baratos que dominam as ciências sociais e humanas. Então, novamente, a coerência não é um de seus pontos fortes (e a busca por esta coerência só pode ser lida como outra imposição patriarcal que legitima o pensamento ocidental opressor).

Logo: o pós-modernismo, por sua natureza (pelo menos no que se refere ao ceticismo), não pode aliar-se ao marxismo. Mas se alia, na prática. A supremacia da retórica marxista pós-moderna na academia (que é uma questão de fato, como defende a Heterodox Academy e outras fontes) o atesta. O fato de que essa aliança é ilógica não pode ser jogado à mesa, só porque assinalo que a aliança existe. Eu concordo que é ilógica. Não significa que não está acontecendo.

É um jogo muito sujo, e aqueles que o jogam estão mergulhados no engano.

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Jordan Peterson

é um psicólogo clínico canadense professor de psicologia da Universidade de Toronto. Suas principais áreas de estudo são a psicologia analítica, social e evolucionista, com particular interesse na crença ideológica, personalidade e na psicologia da religião.


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