A Alteridade Platônica no Diálogo do Sofista e a Superação do Não-Ser Parmenídico

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Por Israel Simplicio Torres
07 de junho de 2022

Pedro Henrique de Sousa
Israel Simplicio Torres

INTRODUÇÃO

A definição de “ser” é uma das questões mais complexas no âmbito da história da Filosofia e em especial no campo da Ontologia. O papel dessa área do conhecimento é, primordialmente, resolver as aporias herdadas pelo filósofo pré-socrático Parmênides de Eléia, que as inicia, ao declarar em seus poemas mítico-filosóficos: “O ser é e não pode não ser; o não-ser não é e não pode ser de modo algum”. Essa é uma discussão que percorre há tempos e diversas respostas foram debatidas a partir das ideias do filósofo citado. No entanto, destacamos aqui uma, que dentre as mais variadas alternativas propostas, obteve seu papel de destaque pelo fato de introduzir uma solução diferenciada para algumas brechas deixadas pela escola eleática. O pensador responsável foi Platão, e na sua obra intitulada O Sofista há um tratamento especial dessa questão, fundamentalmente pela forma como ele se propõe a discorrer e apontar os erros de Parmênides: Descrever os sofistas em sua verdadeira natureza, definir o papel do filósofo e, por fim, reinaugurar as definições de Não-Ser.

Deste modo, compreender as propostas que existiam no contexto da criação do argumento platônico é fundamental. Sabe-se que os entendimentos e definições sobre “ser” predominantes na época de Platão eram os da escola eleática, em conjunto da divergente análise da realidade por Heráclito de Éfeso. As concepções de ambos eram conflitantes e as influências das suas teses se enraizavam nas demais correntes que surgiam na época, como também no imaginário dos sofistas, que acabavam tendo tais justificativas epistêmicas para exercer suas atividades já declaradamente criticadas por Platão. No entanto, para chegarmos lá precisaremos investigar o caminho do ser: afinal, o ser é imóvel ou é móvel?

Para Heráclito, panta rhei – “Tudo escorre e se move” – o devir é uma estrutura indispensável da realidade. “O obscuro”, como era chamado, herdou o dinamismo universal dos filósofos de mileto que perceberam e relataram o nascer, crescer e perecer do mundo e toda a sua dinâmica necessariamente implícita. Sua célebre frase: “Não se pode banhar no mesmo rio duas vezes” é apenas uma inferência à “harmonia dos contrários” que é proposta em seu livro Sobre a natureza (uma obra que não foi preservada por inteiro). Assim, é fácil entender o porquê de as coisas quentes tornarem-se frias, o úmido tornar-se seco e o jovem vir a ser velho. A passagem de um estado ao seu inverso revela o caráter de uma guerra que traz harmonia e ordenação ao mundo. O ser para Heráclito, portanto, seria móvel, pois a mudança é fato inegável da realidade sensível.

Em contrapartida, Parmênides estabelece o princípio de que o ser é, e o não-ser nada mais é que uma negação gramatical, sem correspondência na realidade . Fora dos limites “redondos, perfeitos e bem definidos” do ser não há nada. O ser também não pode ter sido gerado, pois isso implicaria sua derivação de algo que não existe, logo, não-ser. Além disso, é eterno, pois não se pode haver nada antes, nem depois e é uno. Deste modo, o ser é entendido como correspondência na linguagem e no pensamento. Fora desses limites, trata-se apenas do vazio, uma via inexistente, restando apenas o silêncio. Dado as características do ser parmenídico, define-se ontologicamente como imóvel.

Compreender o ser como “imóvel” é aceitar a tese de que aquilo que é não muda, mas é eterno. Como “móvel”, entendemos que nada permanece, e tudo na realidade é passível de mudanças; aqui se diferenciam os estáticos dos mobilistas, respectivamente. Os sofistas, no entanto, utilizavam-se das definições parmenídicas com o intuito de mostrar a validade de sua retórica. Se tudo que existe pode ser dito e corresponde ao ser – logo, a verdade – tudo que está no discurso é passível de ser verdadeiro. Assim, a validade do conhecimento se reduzia em um conflito de ideias, um mero jogo sofístico, de quem argumenta melhor. Platão percebeu essa problemática e tratou de corrigir os furos da argumentação de Parmênides. Este processo que estamos analisando será conhecido como “parricídio” .

1. AS DEFINIÇÕES DE SOFISTA

Antes de começar a definir propriamente os sofistas o diálogo procura fazer uma comparação, identificando-os com trabalhos humanos (esse modelo argumentativo será denominado “método dicotômico” pelo estudioso em Platão, Franco Trabattoni). O exemplo usado para fazer a comparação é o de pescador; mas, por que pescador? A resposta dada visa mostrar duas características que ambos têm: a primeira está relacionada à arte da aquisição, pois são do grupo dos caçadores e possuem formas de atrair e de envolver suas presas. A segunda está ligada ao tipo de animal que procuram: o pescador busca por animais aquáticos; o sofista busca por animais terrestres – o homem. Essa forma de comparar, de separar em dois, até as partes menores, é uma característica da primeira parte do diálogo como uma forma de esclarecer os conceitos desenvolvidos:

O método proposto (chamado dicotômico, ou “da divisão”) prevê antes de tudo a identificação de uma classe muito abrangente à qual pertença especificamente o objeto em análise; tal classe será, em seguida, dividida em duas subcategorias que esgotam a classe, em uma das quais se encontra o ente procurado; a qual, por sua vez, será novamente subdividida de maneira análoga, e assim sucessivamente, até não dever mais ser dividida, porque corresponde ao objeto da investigação (218d-221c) (TRABATTONI, 2010, p. 225).

A primeira definição é a de “Caçador interesseiro de jovens ricos”. Essa definição se deve ao fato de que estes tinham interesse em jovens, de boas condições financeiras e da alta sociedade para ganhar dinheiro ensinando-os. A segunda definição é a de “Comerciante em ciências”, que por sua vez, vai de cidade em cidade vendendo supostas “virtudes” que ele mesmo produziu ou copiou de outros. Essa característica está exposta na terceira e quarta definição de sofista, que o define como um “pequeno vendedor em graus diferentes”. Ele é um vendedor de primeira mão quando produz o “conhecimento” (ou virtude) que irá vender; e ele se torna um de segunda mão quando imita algum conhecimento produzido por outrem e vende como fosse seu.

As outras duas definições são intrinsicamente relacionadas, sendo elas: “erístico mercenário” e “refutador”. O erístico tem por finalidade apresentar o seu discurso de uma maneira que seja irrefutável, e que possuam em suas perguntas e respostas o convencimento de que precisa para não ser contestado por quem lhe ouve, mesmo sem compromisso com a verdade. O refutador, por sua vez, é uma definição um tanto quanto controversa nas palavras de Platão, pois assemelha-se com arquétipo do tipo ideal de filósofo socrático, cujo objetivo é purificar a alma do interlocutor do seu falso saber. Sua função, na prática, seria livrar as pobres almas que lhe procuravam das opiniões errôneas que lhe eram expostas, procurando evitar os obstáculos para o que seria considerado o “verdadeiro conhecimento”. Veremos como tais ideias eram contrárias às noções epistemológicas defendidas por Platão .

2. A ONTOLOGIA PLATÔNICA

Mediante as diversas definições trabalhadas, percebemos que a real natureza do sofista ainda não foi esclarecida. Esses “mestres da contradição” se definem como grandes sábios, especialistas em tudo. Todavia, seria desnecessário crer que tais indivíduos soubessem de tudo, como afirmam; O sofista pode ser definido como aquele que, sem possuir a verdade, tem apenas a aparência da sabedoria (233c-d), consistindo na arte da imitação. Mais uma vez voltando ao método dicotômico, podemos dizer que essa arte se divide em duas: a arte de representar, na qual a imitação é fiel a sua referência; e a arte da aparência, na qual a imitação apenas parece, mas não é de fato.

Classificando o sofista no segundo grupo, encontramos a demonstração da falha parmenídica: “A possibilidade que uma coisa pareça algo que não é, assim como em geral, a possibilidade que existam asserções falsas, implica a hipótese de que aquilo que não é, seja” (TRABATTONI, 2010, p. 228). Podemos concluir que os princípios da escola eleata – que dizem que é impossível pensar e dizer o não-ser – se desconfiguram, necessitando de uma nova formulação. Assim ocorre o “parricídio” de Parmênides, de modo não só a meramente definir o sofista, mas também para estabelecer critérios para a atividade filosófica:

Na minha autodefesa serei obrigado a testar a teoria de meu pai Parmênides e violentamente insistir que, de algum modo, o não-ser é e, por outro lado, num certo sentido, o ser não é [...] pois a menos que essas afirmações sejam ou reprovadas ou aceitas, ninguém que discurse acerca de falsas palavras ou falsa opinião – cópias, ou semelhanças, ou imitações ou aparências – ou acerca da artes que com elas se relacionam poderá jamais evitar ser forçado a contradizer-se e tornar-se ridículo (PLATÃO, 2007, p. 213, 241e, grifos do autor).

Platão se vê na necessidade de questionar algumas teorias antigas sobre a definição de ser, que estão ligadas aos pensadores pré-socráticos enquanto discutiam sobre o princípio originário de todas as coisas – a arché – sendo elas as concepções pluralistas, as unitárias e as materialistas. A primeira, diz que nada é uno, mas que no universo há apenas diversidade, e que tudo é ser. A segunda se contrapõe, afirmando que não há multiplicidade na physis, mas o que existe é um Ser, que é fixo e não se altera, e que não é compatível com qualquer ideia de pluralidade. Por fim, a terceira, que aponta que tudo se reduz a matéria e que como ela se finda em algum momento, a ideia de ser também termina.

2.1 A DEFINIÇÃO DE SER

Para que agora se esclareça o que é o “não-ser”, temos que primeiro partir da definição de “ser” proposta por Platão. Ele começa a defini-lo como aquilo que possui potência (dýnamis): “tudo aquilo que possui potência de qualquer espécie, quer para produzir uma mudança, quer para sofrer o efeito da mais ligeira causa (…) é” (PLATÃO, 2007, p. 233, 247e, grifos do autor) . A explanação continua e é feita a partir das concepções de mobilistas e estáticos:

Nesse caso, o filósofo – o qual tem essas coisas na mais alta estima – deve necessariamente, pelo que parece, recusar-se a aceitar a afirmação de que tudo está em repouso, seja como unidade, seja como multiplicidade de formas, devendo igualmente recusar-se cabalmente a dar ouvidos aos que sustentam que o ser é movimento universal. Precisa imitar as crianças na sua súplica de ambos, e declarar que o ser e o tudo (universo) são tanto o imóvel quanto o que se move (PLATÃO, 2007, p.226, 249d).

Platão não descarta totalmente a ideia dos filósofos anteriores, sobretudo tendo a intenção de sintetizá-las, buscando a harmonia tanto de um lado, que afirmava que o ser é uno, tanto do outro, em que o ser é múltiplo. Como ele mesmo aponta, é preciso que imite as crianças que querem ambos ao mesmo tempo. Para que se possa fazer isso, ele demonstra como isso pode ser feito por algo que ele denomina de “Ciência da Dialética”, sendo esse o meio para se chegar à verdade, e assim, afirma:

Bem, concordamos que as classes ou gêneros também mesclam-se entre si ou não se mesclam do mesmo modo. Assim, se alguém se pusera nos mostrar corretamente que as classes se harmonizam com que classes e que classes rejeitam-se entre si, não terá que dispor de algum conhecimento à medida que progride na argumentação? Além disso, não terá que saber se há alguns elementos que se estendem a todos e os associam, de sorte a poderem se mesclar e, igualmente, quando se dissociam, se há outras causas universais de dissociação? [...] Não diremos que a divisão das coisas por gêneros ou classes e o não pensar que a mesma espécie é uma espécie diferente ou que uma espécie diferente é a mesma pertencem à ciência da dialética? (PLATÃO, 2007, p.233, 253c-d).

A melhor forma de se conhecer uma ideia seria contemplá-la puramente por meio de uma intuição intelectual. O método dialético funciona na medida em que a impossibilidade do conhecimento puramente metafisico se revela, sendo necessário “iluminar” a sua natureza, elucidando suas relações com outras ideias (TRABATTONI, 2010, p.240). Deste modo, ela serve para separar as coisas em graus ou gêneros, podendo assim analisar parte a parte antes de concluir algo acerca do objeto, ou dos objetos que estão sendo estudados. Como não é possível a verificação direta com o objeto ideal, a coerência nos modelos comparativos funciona como um guia para o critério de verdade. Dessa forma, a dialética une-se a doutrina da reminiscência para consolidar um modelo epistemológico em Platão. Trabattoni cita:

É claro que o método dialético, se tal é a sua natureza, será sempre circular. Mas não se trata de um círculo vicioso. A doutrina da reminiscência certifica que os homens conheceram em certo momento as ideias e que conservaram em suas almas alguns resquícios daquilo que puderam conhecer. Esses resquícios são explicitados e reativados justamente pelo exercício dialético, que serve deles como guia que orienta implicitamente a investigação, dando origem a um saber parcial, aproximado e passível de ser aperfeiçoado (TRABATTONI, 2010, p. 240-241).

Após essa divisão, ele procura elucidar ainda mais os cinco gêneros máximos: de “ser”, “repouso”, “movimento” e o “outro”, buscando conciliar o mover com o estático, possibilitando a existência de ambas na natureza: Se podem coexistir o repouso e o movimento, (na medida em que se pode dizer que tanto o móvel como o imóvel são), o que será então o ser do qual ambos participam? Platão, através de um dos personagens, o Estrangeiro, diz:

Assim, é imperioso admitirmos, sem nos inquietarmos com isso, que o movimento é o idêntico e não é o idêntico, pois quando dizemos que é o idêntico e não é o idêntico não usamos as palavras do mesmo modo. Quando o chamamos de idêntico, assim agimos porque ele participa do idêntico relativamente a si mesmo, ao passo que quando o chamamos de não idêntico assim o fazemos devido a sua participação no diferente, pelo que é dissociado do idêntico e nele não se converte, mas é diferente. Assim é correto dizer que não é o idêntico (PLATÃO, 2007, p. 238, 256b).

Dessa forma, entendemos que dentro da noção de comunidade o ser não pode estar dissociado, alienado das relações entre os gêneros, e por mais que se diferencie, não deixa de estar a elas ligado, porque todos participam do ser (252b-e). O ser, em termos semânticos, é o que permite dizer que algo é. Para não possamos nos limitar a proposições tautológicas, tais como “o bem é o bem”, podemos relacionar as partes com a predicação que se liga ao ser: “o homem é bom”. A ideia de comunidade permite a participação dos diferentes gêneros, encerrando uma quantidade finita de ser (como por exemplo, tudo que diz respeito ao “homem”) e uma quantidade infinita de não-ser (tudo que não faz parte do ente referido). Para além do uso do princípio de identidade, que cai nas proposições tautológicas, podemos também descartar uma posição de que todos os gêneros participam de tudo, na qual cairia na contradição de dizer, por exemplo, que “o movimento é o repouso”. Ficaremos com a posição intermediária de Platão e seguiremos para o não-ser.

2.2 NÃO-SER

Depois desta longa definição do que é o ser, e de como Platão consegue unir teorias aparentemente tão opostas, ele dá a definição de não-ser e, nesse mesmo movimento, refuta a ideia dos sofistas que possuem um discurso falacioso escondido na ideia da impossibilidade do não-ser colocada por Parmênides. Assim, recorrendo mais uma vez a obra, o personagem Estrangeiro usa como exemplo o movimento para explicar a diferença entre o repouso e o ser. Mas, que fique claro que o diferente não significa “sem existência” – pois há movimento – mas sim aquilo que difere do outro, pois mesmo o movimento sendo o não-ser (já que é o “outro” do estático), acaba sendo, pois participa do ser e da comunidade . Nas palavras de Platão, por meio do Estrangeiro:

Assim, no que toca ao movimento, o não-ser necessariamente é, estendendo-se isso a todos os gêneros, uma vez que em todos a natureza do diferente opera de tal maneira a tornar cada um diferente do ser e, portanto, não-ser. Assim, a nós é facultado, desse ponto de vista, declarar acertadamente, no tocante a todos eles igualmente, que não são. E, por outro lado, também acertaríamos se disséssemos que são seres, uma vez que participam do ser. [...] A conclusão é que, relativamente a cada um dos gêneros, o ser é múltiplo e o não-ser é numericamente infinito. [...] Então deve-se também dizer do próprio ser que é diferente das demais coisas [...] uma vez que por força de sua natureza os gêneros participam uns dos outros (PLATÃO, 2007, p.239-240, 256d-257a).

Deste modo, ele conclui seu pensamento dizendo que, quando há uma parte da natureza que se opõe, esta oposição “não deixa de ser”, pois a exposição dos contrários nada é mais do que aquilo que é diferente dele e isso é chamado de alteridade: aquilo que é diferente do outro e não deixa de ser. É aquilo que não perde a sua essência quando é posto diante de algo que não é ele mesmo. Trabattoni diz: “A participação de todos os gêneros no diferente é a razão que dá origem à sua relação com o não ser. Assim, pode-se dizer que cada gênero participa do gênero do ser (porque é), mas não é o ser (porque é um gênero diferente do ser)” e continua “Por isso, todos os gêneros, porque são diferentes do gênero do ser, ‘não são’” (TRABATTONI, 2010, p.238). Eis a definição de “não-ser” em Platão.

3. A DEFINIÇÃO DA ARTE SOFÍSTICA: A MIMÉTICA

Em consequência disso, para entender como funciona essa relação da arte com o sofista, é preciso entender como Platão enxergava a arte de um modo geral. O belo é relacionado com a verdade e a perfeição e tem valor em si mesmo, pois se trata de uma ideia do Hiperurânio . A beleza das coisas sensíveis, então, estaria ligada a uma relação mais forte ou mais fraca com essa ideia. A crítica de Platão aos artistas se dá nessa “cópia”, que corrompe a real natureza da beleza.

Agora surge a pergunta: como isso se infere aos sofistas? A resposta não é tão simples. Antes, é necessário que se faça a compreensão do uso do não-ser de Parmênides e a forma como os sofistas aplicavam isso ao discurso. Fundamentalmente, a ideia era de que tudo aquilo que é “não-ser”, não pode de modo algum ser dito ou pensado, e nem era possível ao discurso. Só poderiam falar do ser, daquilo que existe, e eis onde que reside o problema, pois eles poderiam falar sobre qualquer coisa, mesmo que não fosse verdade e usar desse argumento para justificar suas proposições como verdadeiras, podendo, assim, lucrar – que era o seu objetivo.

Portanto, de forma análoga, assim como a arte demonstra algo que não é verdadeiro, o sofista assim o faz quando discursa, vendendo suas supostas virtudes, que não tinham outro propósito a não ser um enriquecimento pessoal, e seu método, que participa da arte mimética, é contraditório e suas opiniões, apenas aparência. Como o texto encerra:

O tipo imitativo da parte dissimuladora da arte da opinião, que constitui parte da arte da contradição e pertence ao gênero imaginativo da arte de produção de cópias, que não é divina, mas humana, e que foi definida por força de argumentos como a parte de prestidigitação da atividade produtiva. Aquele que disser que o sofista pertence a essa raça e família estará, ao meu ver, dizendo a completa verdade (PLATÃO, 2007, p. 261, 268d).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, pode-se concluir da obra O Sofista uma busca de Platão em mostrar a falta de preocupação dos sofistas com a verdade e de como essa é essencial para a atividade filosófica e pesquisa ontológica. Aquele que vende discursos sem a sinceridade da relevância do tema, que busca apenas o dinheiro e o reconhecimento não tem compromisso com aquilo que, de fato, é. Os conceitos aqui trabalhados, para além do “parricídio”, também reforçam a velha comparação platônica entre filósofos e filodoxos, na medida em que o uso claro do método dicotômico e dialético permite ao primeiro uma justificativa racional em detrimento do segundo, guiado apenas pela doxa, “opinião”.

A refutação do Parmênides se fez necessária para a solução de uma aporia findada em uma fraca justificativa gnosiológica e permitiu o enriquecimento da discussão ontológica. Além da superação do Eleátismo, a reafirmação do método dialético, onde um sujeito, através de perguntas, instiga o conhecer do próximo se mostrou fundamental; a maiêutica socrática agora, além dos usos de mitos e deuses para explicar um determinado assunto , se propôs a fazer uso inteiro da razão para o “partear” dos conceitos: Vemos o amadurecer filosófico de Platão em suas navegações metafísicas.

Sobretudo, a alteridade solucionou as aporias do ser e não-ser parmenídico. Entender que uma coisa e sua contraversão podem coexistir no cosmos é admitir a pluralidade das coisas e seus movimentos. O livro não faz menções ao Hiperurânio – Mundo das ideias – mas, com conhecimentos prévios de outros diálogos platônicos, a conciliação entre Parmênides e Heráclito está justamente na concepção de que os diferentes coexistem e não anulam a existência do outro. Respectivamente representam: Um mundo de formas eternas é o mundo das ideias. Lá, sabe-se que todas as ideias são perfeitas e belas, bem fechadas e redondas com aquilo que as define, eternas; E o mundo sensível, existe pelas leis do espaço e do tempo, além da matéria, esta que é sujeita às mudanças. Esse mundo nada mais é que uma cópia imperfeita do mundo inteligível, tudo tem um fim e um recomeço, o ciclo do cosmos.

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