A Revolta dos Intelectuais

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Traduzido por Valéria Campelo
07 de junho de 2022

Whittaker Chambers foi um escritor americano e ex-espião soviético conhecido por sua bravura ao denunciar traidores infiltrados no governo Truman a serviço da URSS. Nesta viagem no tempo até 1941, entenda por quê vários intelectuais conservadores acabaram servindo o Partido Comunista na era do stalinismo.

A Revolta dos Intelectuais

Whittaker Chambers, 1941

“Quando o trem da história faz uma curva fechada”, disse Lênin, “os passageiros que não seguram bem seus assentos são jogados para fora”. Na semana passada, a Comunista LTDA havia acabado de completar a vertiginosa curva do Pacto Comunazi para a Batalha da Grã-Bretanha, e os intelectuais liberais dos EUA estavam espalhados por todo o lado direito do vagão. Enquanto o Expresso Vermelho apitava das sombras de uma década derradeira, ex-companheiros de viagem [1] esfregavam suas feridas, perguntando-se como sequer chegaram a bordo. Expectadores pensavam se haviam aprendido o suficiente para embarcar nos trilhos democráticos que se estendiam pelas sombras da década vindoura.

O Expresso Soviético. Time, 1941

Os ex-companheiros certamente percorreram um longo caminho. Nos EUA dos anos 20 — com suas fábricas barulhentas e trabalhadores ocupados demais criando famílias, comprando rádios e automóveis para pensar em greve — eles viram pouco para admirar. Desanimados, agrupavam-se em círculos como o The New Republic e o The Nation. Trocando um bom acordo de incesto intelectual pelo contato orgânico com a vida dos EUA, desenvolveram um provincianismo cultural curioso. A Depressão chegou até eles como uma mudança refrescante. Fundamentalmente céticos, mal ajustados e derrotistas, os intelectuais se sentiram completamente em casa no caos e na miséria dos anos 30. Fundamentalmente benevolentes e humanos, amaram seus compatriotas na angústia muito mais do que poderiam ter amado na prosperidade. E gozaram particularmente da vida quando os aplausos começaram a cumprimentar suas críticas aos barões mercenários, fabricantes de presidentes, monarquistas econômicos, malfeitores de grandes fortunas.

A partir daí, foi apenas um passo para apoiarem o Partido Comunista, especialmente quando os marxistas apontaram que, enquanto no capitalismo um escritor é ou um picareta ou um best seller vulgar, no comunismo ele é um funcionário privilegiado do Estado.

A ascensão do fascismo completou a conversão dos intelectuais. Assustados com o destino da intelligentsia alemã e encantados com a chance de atacar o nazismo na Espanha, os intelectuais emprestaram seus nomes, prestígio, dinheiro e apoio militante a dezenas de comitês (muitos dos quais agora sabem que eram falsos) para combater o fascismo e ajudar a Espanha leal.

Por volta de 1938, os comunistas americanos podiam contar entre seus aliados nomes como Granville Hicks, Newton Arvin, Waldo Frank, Lewis Mumford, Matthew Josephson, Kyle Crichton (Robert Forsythe), Malcolm Cowley, Donald Ogden Stewart, Erskine Caldwell, Dorothy Parker e Archibald MacLeish. Lillian Hellman, Dashiell Hammett, John Steinbeck, George Soule, e muitos outros.

À exceção de Granville Hicks, provavelmente nenhuma destas pessoas era comunista. Eram companheiros de viagem que queriam ajudar a combater o fascismo. Como poderiam saber que Lênin era o primeiro fascista e que eles estavam cooperando com o partido do qual os nazistas tomaram emprestado todos os seus métodos e ideias importantes?

Na semana passada, até mesmo o mais insípido companheiro de viagem descobriu.

Após o Grande Expurgo de Stalin, do Pacto Nazi-Soviético, da tomada russa de metade da Polônia, 1940 traiu toda a base intelectual das forças de Stalin com o ataque à Finlândia, a tomada de parte da Romênia e de todos os países bálticos. Companheiros de viagem começaram a pular do trem. Prontamente, o Camarada V. J. Jerome, o Führer do Partido Comunista para os intelectuais americanos, escreveu um panfleto (Intellectuals and the War) despedaçando seus velhos amigos. Escreveu Jerome que seus antigos colegas eram apenas fantoches capitalistas. Eles “vieram como desocupados arrogantes… Olharam a classe trabalhadora como um pedestal sobre o qual podiam se levantar. Viram uma oportunidade de 'lucrar' com a publicidade que o movimento concede àqueles que se juntam às forças do progresso”.

Enquanto isso, os intelectuais, refugiados mais uma vez em suas fazendas reformadas e solitárias em Connecticut e Berkshires, refletiam sobre isso. O Camarada Hicks, o que mais se aproximou do Partido, sabia mais sobre o assunto, e via que o Comunismo crescia dia após dia tanto quanto o fascismo. Waldo Frank, que diz ter viajado sob a curiosa ilusão de poder influenciar os comunistas em direção a coisas mais elevadas (“Eu sabia em meu coração que não podia”), deixou os comunistas para tão longe que tudo pareceu um tanto engraçado. Lewis Mumford, em que as viagens consistiam, no mais das vezes, em deixar que as organizações da Frente Comunista usassem seu nome em papel timbrado, considerou esta última uma das “vergonhas da minha vida”. Também considerou os comunistas “perniciosos” — para Mumford, um termo forte. Malcolm Cowley, escrevendo um livro “para esclarecer minha mente”, queria apenas ser deixado em paz para lamber suas feridas espirituais.

Os comunistas, furiosos, não tinham intenção de deixá-lo em paz e a nenhum de seus ex-aliados. Mãos experientes no assassinato de caráter e de reputação literária (“General Krivitsky, você é Schmelka Ginsburg!”), difamavam os desertores em suas charges e artigos. Porém, com a partida dos letrados de primeira categoria, o New Masses fora reduzido a injúrias estridentes de Ruth McKenney (My Sister Eileen), a grunhidos do cão comunista Mike Gold (Jews Without Money), e a charges venenosas de William Gropper.

Lênin havia advertido: “A contrarrevolução se desenvolve na mesma proporção da revolução”. Melhor que ninguém, os comunistas sabiam que a experiência dos ex-companheiros de viagem não seria desperdiçada, e temiam que o Partido houvesse treinado um grupo de homens que um dia ajudariam a destruí-lo. Os intelectuais podem ser lentos, lerdos, autossuficientes, pouco práticos, confusos ou patetas, mas chegaram às suas convicções “não sem anos no deserto e dias de cegueira”. Acima de tudo, eram articulados.

Na década que começa este ano, resta saber se Lênin estava certo, se os intelectuais liberais dos Estados Unidos usarão sua inteligência para apoiar efetivamente o lado da democracia. Já haviam feito um começo. Waldo Frank escrevera um guia em seu Chart For Rough Water. Mumford escrevera outro em seu simples e comovente livro Faith for Living, onde, em seis palavras, expressou o que até então milhões de seus compatriotas só conseguiam sentir vagamente: “A luta é pela alma humana”.

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Whittaker Chambers

foi um escritor e editor americano que, após os primeiros anos como membro do Partido Comunista e espião soviético, desertou do Subterrâneo soviético, trabalhou para a revista Time e depois testemunhou sobre o grupo Ware no que se tornou o caso Hiss por perjúrio, muitas vezes referido como o julgamento do século, todos descritos em seu livro de memórias Witness, de 1952. Depois, ele trabalhou como editor sênior na National Review.


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